Maturidade 4 em Métodos Ágeis – Agilidade em Escala Organizacional

Em continuidade ao nosso modelo de maturidade em métodos ágeis, iremos falar da escalabilidade das práticas ágeis em organizações. Vimos que no nível 3 de maturidade as práticas ágeis se tornam consistentes dentro de um projeto. O caminho natural  é o espalhamento dessas práticas por diversos projetos, áreas ou até mesmo toda uma organização.

Desde a nascimento dos métodos ágeis há 20 anos atrás, diversos praticantes enfretaram o problema da escalabilidade de métodos ágeis. Os resultados foram diversos e levaram a um conjunto robusto de frameworks de processo. Compilamos alguns abaixo.

LESS (Large Scale SCRUM)

Large Scale Scrum

Origem: O LESS foi compilado a partir das  experiências  de Craig Larman e Bas Voodle em consultoria e desenvolvimento de produtos em larga escala, com centenas de analistas trabalhando simultaneamente com um objetivo unificado.

Bases conceituais: O LESS tem como pilares o SCRUM, o pensamento Lean e Teoria de Sistemas. O SCRUM fornece ao LESS a estrutura, papéis, ritos e produtos de trabalho. O pensamento Lean fornece a esse framework a sólida base de conhecimento do Sistema Toyota de Produção, incorporado com robustez nesse trabalho. A Teoria de Sistemas traz os elementos poderosos de pensamento tais como efeitos defasados no tempo, ciclos de reforço positivos e negativos, análise de causas raízes e arquétipos organizacionais. O sítio mantido pelos autores é uma rica fonte de informações, congregando ao mesmo tempo conceitos sofisticados e práticas aplicáveis em virtualmente qualquer tipo de projeto.

Livro essencial:  Scaling Agile and Lean Development: Thinking and Organizational Tools for Large-Scale Scrum, Craig Larman e Bas Voodle.

Certificação de entrada: Certified LESS Practicioner


 

SAFe (Scaled Agile Framework)

SAFE 4.0
SAFE 4.0

Origem: O SAFE, que teve a versão 4.0 lançada em Janeiro de 2016, é fruto do trabalho de Dean Leffingwell, direcionado para operar uma área de Tecnologia de Informação em alinhamento ao portifólio organizacional, com o uso de princípios e práticas ágeis e lean.

Bases Conceituais: O SAFE também é fortemente baseado no SCRUM e no pensamento Lean. Entretanto, observamos nesse método também conceitos gerenciais clássicos como o uso de cadeias de valor, portifólio e programas de projetos. O SAFE é um método com uma estrutura mais rígida que outros métodos ágeis, o que traz críticas de agilistas mais extremos e elogios de gerentes que estão acostumados com escolas gerenciais mais tradicionais.

Livro Essencial: Scaling Software Agility: Best Practices for Large Enterprises (Agile Software Development Series)

Certificação de Entrada: SAFe Agilist


NEXUS

Nexos Framework
Nexus Framework

 

Origem: O Nexus teve origem a partir da experiência de Ken Schwabber, um dos pais do SCRUM, no desenvolvimento de produtos com vários times Scrum operando em paralelo. O Nexus é mantido pela comunidade Scrum.Org.

Bases Conceituais: O framework Nexus é a sistematização da técnica de escala o Scrum chamada Scrum of Scrums, para projetos que demandem entre 3 e 9 times operando em paralelo. Ele introduz novos papéis e um time especial (Time de Integração) e tem como foco central a integração e coordenação dos esforços de cada time na construção dos incrementos de produtos.

Livro Essencial: Guia do Nexus, já traduzido para o português.

Certificação de Entrada: Scaled Professional Scrum (SPS)


 

Holocracia (Holacracy)

Holocracia
Holocracia

Origem: A Holocracia é um sistema descentralizado de tomada de decisões para que empresas possam criar mecanismos de auto-organização para operar em ambientes dinâmicos e complexos.  

Base Conceitual: A Holocracia tem em seus pilares conceitos sociológicos de organizações de centro vazio, conceitos de auto-organização, teoria da complexidade e teoria da emergência (emergence). A Holocracia não é um framework de TI e tampouco centrada em projetos apenas. Ele lida com o problema de criar organizações anti-frágeis (como definido por Nassib Taleb no seu potente livro Anti-Fragilidade: coisas que se beneficiam da desordem). A Zappos, bilionária empresa americana recentemente comprada pela Amazon, implementa a holocracia como o seu sistema gerencial descentralizado. O portal Holacracy.org é uma vasta fonte de recursos para interessados e praticantes.

Livro Essencial: Holacracy: The New Management System for a Rapidly Changing World 

Certificação de Entrada: Holocracy Practicioner


 

Cada uma desses frameworks possui dezenas de casos documentados e milhares de empresas em todo o mundo que os usam para seu benefício econômico e social. E de volta ao nosso modelo de maturidade, definimos o uso de métodos ágeis em escala organizacional com esses ou outros frameworks similares como sendo o nível 4 de maturidade.

Organizações que atingem esse nível transcedem os projetos de desenvolvimento de software ou infraestrutura. Essas organizações mudam a sua estrutura interna de funcionamento e transcendem as mazelas gerenciais e ineficiências tão fortemente instaladas em muitas organizações ainda presas ao modelo da administração do século XX.

Se você já opera algum método ágil (SCRUM, OpenUP, XP, Entrega Ágil Disciplinada) de forma consistente em seu projeto há mais de 6 meses, talvez exista espaço para você avançar para o nível 4 de maturidade. Algumas dicas rápidas a respeito incluem:

  • estudar o pensamento e práticas lean;
  • estudar práticas de agilidade organizacional citadas nesses frameworks;
  • avaliar os casos de sucesso citados nesses frameworks e se informar como se deu a implementação;
  • promover debates entre times na sua organização que já praticam o SCRUM;
  • começar a incorporar o pensamento lean dentro das suas práticas ágeis;
  • começar a incorporar práticas lean dentro das suas práticas ágeis. Em particular, percebo da minha experiência que práticas lean ligadas à redução de desperdício tem apelo imediato nos gerentes e possuem baixa resistência para adoção.
  • escolher um framework em escala organizacional e começar a incorporar algumas de suas práticas em uma área ou produto de larga escala;
  • buscar apoio de pessoas que já possuam conhecimento mais sólido nesses frameworks.

Os resultados podem ser muito interessantes.

No próximo post, o último dessa série, iremos descrever como organizações podem atingir a excelência através desses métodos através da  mola mestra da melhoria contínua (Maturidade 5).

Pensamento do dia: “If everyone has to think outside the box, maybe it is the box that needs fixing.”, Malcolm Gladwell

3 comentários sobre “Maturidade 4 em Métodos Ágeis – Agilidade em Escala Organizacional

    1. Oi, Max. O TOGAF é um corpo de conhecimento que, embora muito rico, não está nada orientado a práticas ágeis. Ele é muito centrado ainda em documentação e muito pesado para a maior parte das organizações. Mesmo iniciativas mais leves como o PEAF (versão slim do TOGAF) ainda são muito gordas, sinceramente.

      Obrigado pela pergunta 🙂

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